Bem do seu tamanho - Sinônimo de diversão na infância

O clima de nostalgia tomou conta do Anexo Secreto!

Sabe aqueles momentos em as lembranças da infância vem à tona, num turbilhão fantástico de recordações, quando a gente encontra algo que nos remete a situações e tempos passados que infelizmente não voltam mais? Pois é... Isso aconteceu recentemente comigo e tenho quase certeza que um dia também já aconteceu com você...
Eu não estava revirando baús ou caixas cheias de lembranças e objetos que permearam a minha infância, mas sim mexendo em minha modesta estante de livros.
Inesperadamente encontrei uma obra da ótima e inteligentíssima escritora Ana Maria Machado, chamada "Bem do seu tamanho". Lembro muito bem que adquiri (ou melhor, meus pais adquiriram para mim) este livro paradidático porque ele era um dos itens da lista do ano letivo da escola. No começo não me interessei muito em sua leitura e o deixei desprezado, de lado durante alguns meses. Até que um dia decidi por livre e espontânea vontade desvendar o que havia por trás daquela capa simples, porém muito bem desenhada. Logo descobri que se tratava de uma obra bastante interessante e cativante, daquelas que a cada página ou capítulo da mais vontade de ler, devido à sua estória deliciosa e descomplicada.
Naquelas 55 páginas havia uma ótima e despretensiosa narrativa que instigava a imaginação dos seus leitores (público infanto-juvenil) e que contava com uma estória envolvente e diferente dessas que fomos acostumados a ler na infância. O enredo gira em torno de uma menina chamada Helena que enfrenta um dilema constante, difícil de compreender para uma criança como ela: descobrir definitivamente qual era o seu tamanho, pois as situações do dia-a-dia a deixavam muito confusa quanto a isso. Em certos momentos era grande demais para fazer certas coisas de "criancinhas" e em outros era pequena demais para fazer outras. O trecho a seguir explica isso melhor:

"E era sempre assim. Na hora de ir ajudar no trabalho da roça, ela já era bem grande. Na hora de ir tomar banho no rio e nadar no lugar mais fundo, ela ainda era muito pequena. Na hora em que os grandes ficavam de noite conversando no terreiro até tarde, ela era pequena e tinha que ir dormir. Na hora em que espetava o pé com um espinho e queria ficar chorando no colo de alguém, só com dengo e carinho, sempre diziam que ela já estava muito grande para ficar fazendo manha. Se ela tivesse um espeho mágico, que nem a rainha madrasta da Branca de Neve, bem que podia perguntar: - Espelho meu, espelho meu, que tamanho tenho eu?"

Com o objetivo de resolver tal dilema, Helena decide viajar pela sua região, a fim de encontar respostas às suas perguntas, acompanhada de seu boi de mamão, chamado Bolão. No caminho, ela encontra diferentes figuras, passa por variadas situações e lugares, faz interessantes descobertas e ganha novos e fiéis amigos, Tipiti e Flávia.
Saber se ela encontrou as respostas às suas perguntas já é uma outra história, pois nem mesmo Helena compreende muito bem suas conclusões após a intensa jornada.
Além da estória única e cativante que faz os leitores se identificarem com as situações vividas pela pequena protagonista Helena, o que reforça a qualidade da obra, sem dúvidas, são as ilustrações primorosas de Gerson Conforto, presentes na edição de número 22. Na minha opinião, Conforto é um dos melhores ilustradores do país, por suas imagens excelentes e caprichadas, que refletem com perfeição o enredo presente no livro. Além disso, é super interessante ficar procurando figuras e detalhes "escondidos" nas suas imagens, o que aumenta a interação com a obra.

"Bem do seu tamanho" faturou o 2º lugar do Prêmio Fernando Chinaglia de 1979 e é altamente recomendável para crianças pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Créditos das imagens: Sebo do Messias, Interlúdio